o conto da Tatiana

“Ai eu sou do tempo uma sardinha ter de dar para cinco”. Todos nós já ouvimos em alguma altura da nossa vida alguém dizer isto. Habitualmente, pessoas que viveram no tempo da ditadura de Salazar, jovens dos anos 60 que foram forçados a emigrar com a ambição de ter uma vida melhor e por aí fora.

É nobre! É motivador ver que ainda que com estes sacrifícios muitas das pessoas conseguiram tornar a sua vida melhor e é triste ver que com muitos obstáculos e vidas traiçoeiras outros tantas não viram as suas vidas melhorarem.

Pronto e esta foi a parte séria da crónica!

E quando ouvimos este discurso todo “Programa da Cristina” com uma pitada de “Daniel Oliveira” vindo de uma jovem adulta na casa dos 30 anos, com um curso superior, com mala Channel, meias opacas pretas e sabrininha daquelas bicudinhas à frente com uma fivela toda dourada? Aposto que tem um Audi! Mas não quero ser intriguista… que eu não sou dessas coisas!

Oh Tatiana, querida, tu nem na universidade partilhaste uma lata de atum pah… aliás, eu tenho dúvidas que tu sequer comas atum em lata do Lidl.

Quem é a Tatiana? A Tatiana (Taty para os amigos) é aquela menina de classe média que gostava de ser “tia” mas nunca vai chegar lá, mas também não é a desgraçada que se esforça para pagar as contas da luz e água. Está naquele limbo…. Tem dois filhos, o Bernardo e o Afonso, e adora ser mãe. Está até a pensar em ser mãe mais uma vez, porque queria tanto uma menina e pode ser que seja desta que venha uma Constança.

Como os pais tem um negócio de família, acho que é um talho, conseguiram dar à Taty (eu conheço-a bem e presto-me a estas confianças) uma vida folgada, diferente da que tiveram no seu tempo. E fizeram questão que estudasse… é bem!

Sempre que pode, vai àqueles jantares da Junta de Freguesia e acho que já foi mandatária da juventude de um partido qualquer. Ela não se importa de fazer aparições deste género porque segundo a avó “ela fala muito bem”. Sabe dizer uma frasezinha ou outra sobre saber viver em paz com nós mesmos porque leu naqueles livros de Augusto Cury, que as colegas também já lerem e é dos melhores livros da vida dela. Ela até diz que mudou a vida dela…

(Tive que fazer uma pausa a escrever que estava a ficar emocionada)

E o lado da Taty em defesa dos desprotegidos? Ui… não a queiram ver enervada com as injustiças sociais em Portugal, que ela até bem capaz de gritar bem alto e com toda a imprudência um “ORA, BOLAS”.

Como na realidade pura e dura não faz a mínima ideia do que são estas falências da sociedade, e em boa verdade nem sequer faz nada de muito ativo para ajudar, inventou a história da sardinha personalizada na pessoa dela – para dar aquele “charme”.

O que acontece é que a Taty nunca nesta vida teve que partilhar uma sardinha por cinco e muito provavelmente nunca viu os pais fazê-lo. Quanto muito, ouviu uma historinha ou outra do pai e da mãe que nem sempre a vida foi fácil. Ela, esperta a cachopa, percebeu que podia fingir que é pobrezinha humilde se assistisse desde muito novinha a todos os programas de histórias de desgraças alheias que passam na televisão e assim conseguir estar mais próxima dos “oprimidos”. Tudo isto podia dar tudo certo não fosse o sotaque forçado de Cascais, mas mora ali para os lados de Gondomar e (vou me repetir) tem uma mala Channel, meias opacas pretas e sabrininha daquelas bicudinhas à frente com uma fivela toda dourada.

Em todo o caso, eu assumo o meu total apoio à Tatiana que vai pela quarta vez consecutiva concorrer à presidência da Associação de Jovens Desfavorecidos da freguesia dela. É que eu já estou como a avó dela diz “a rapariga fala bem” e “tem jeito para estas coisas”.

P.S. – às terças e quintas dá explicações de Português para o sexto ano nos fundos da casa dos pais.

(Prendada a cachopa)

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