Elefante da Sumatra e os panos amarelos e azuis

Já não importa se há espaço.

Havia espaço, houve sempre espaço, arranjou-se espaço… hoje… já não interessa se há ou não!

É o problema de comprar a decoração de casa antes de a construir: quando se vai a meter as coisas ao sitio já quase não faz sentido. Mas parecia que fazia.

Era este operador um jovem e ainda longe de se graduar na decoração de interiores, uma conhecida sua mostrou-se muito encantada com uns belíssimos panos de cozinha azuis e amarelos para a sua futura casa com o seu futuro marido. Nem havia casa nem havia futuro marido e claro que nem um desgraçado de um desenho de como seria a cozinha. Hoje existe marido, mas a cozinha é um belo de um castanho natural rústico. Aqueles panos foram para a gaveta e não são usados. Que pena!

Vinte anos depois deste operador ter observado algo que lhe pareceu muito precipitado e sem sentido, já com a sua graduação e todo o seu conhecimento em interiores de uma casa, qual será a ironia do destino que como que por impulso comprou uma peça de escultura luxuosa – assim do estilo Lalique. Não havia hipótese, era impossível não adquirir esta obra de arte.

Um elefante da Sumatra em cristal. Um cristal negro ligeiramente transparente, enorme… uma coisa a parecer bem. Este operador, mesmo não tendo casa, por vezes andava com o elefante a reboque… ah, pois… então, mas ia se lá esconder uma peça destas?

As vezes lá se lembrava dos panos de cozinha azuis e amarelos. Daquelas histórias que se conta aos amigos para dar uma graçola, qual gente sem noção que compra artefactos antes de fazerem sentido. Riam-se muito… quantas vezes aquela mesa se riu com os panos amarelos e azuis… barrigadas de riso!

Mas não era coisa que acontecesse com a escultura do elefante da Sumatra… ah, não! Era arte, sabem? Era só gente a querer tocar, e este operador nervoso com um paninho especial – daqueles que se compram nas lojas de coisas especiais – para não se ver as marcas dos dedos dessas pessoas sem sentido que não entendem o verdadeiro valor da escultura.

Finalmente a casa!

Esta coisa de ter que andar com um reboque a passear o elefante da Sumatra já não dava com nada. Bolas, que a arte precisa de um sitio para se expor. A casa era enorme… inclusive este operador não fez por menos: havia um quarto só para esculturas e pinturas e loiças incríveis e tudo e tudo e tudo. Era preciso ajuda para não se partir e ser colocado no lugar que merece…

No lugar que merece…

No lugar que merece…

No lugar que merece…

No lugar que merece? Que lugar?

Havia espaço, houve sempre espaço, arranjou-se espaço… hoje… já não interessa se há ou não!

É problema de comprar a decoração de casa antes de a construir: quando se vai a meter as coisas ao sitio já quase não faz sentido. Mas parecia que fazia.

Operador um

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