Cifras e o Natal – parte II

Ai Lurdes, Lurdes… assim não dá pah!

Este operador até percebe que quando se faz assinatura do programa “pro master” da aplicação das frases da paz e se abraça um sobreirozinho, se anda descalça, se bebe um chá dos Himalaias, fazemos parte da Associação Somos Boas Pessoas e Queremos que o Mundo Saiba que um dia doamos uma camisola de capuz a um miúdo de um bairro social, até se queira evangelizar todo este estilo de vida.

E tudo isto fazia sentido e era giro, se fosse verdade. Não sendo… como explicar… este operador não quer ser bruto, mas é parvo, Lurdes, entende?

Há anos este operador escrevia sobre este assunto e pensou, lá no fundo que seria um assunto que não era necessário voltar.

É que há uma atualização: não bastava haverem frases que não significam nada e os autores não existirem, como agora dá-se-lhes uma espécie de veia escritora e inventam coisas que se somarmos tudo, a frase continua sem significar nada e o autor são os próprios, mas assinam como sendo o Dalai Lama da terra. E há sempre um pateta qualquer que escreve “isso é lindo” ou “a família que todos nós contruímos unidos num só propósito”.

Lindo? Não, não é! E tem erros de português, estão todos a ver ou passaram todos a primária com trocas de favores?

Propósito? Mas qual propósito? Os exames de aferição para admissão ao ciclo?

Este operador, que muitas vezes duvida das suas capacidades, vacila e equaciona a hipótese de não entender um caracol da coisa então recorre ao “Google” para ver se descobre novos autores, quem sabe novas filosofias… temos de ser abertos e não julgar antecipadamente. E até que é possível de ver de onde vêm as frases e todo um esforço em querer que pareçam originais e aquele pensamento de “eu sou super diferente e alternativa e sou mega pensadora e livre e por isso consigo sem me esforçar, que o bem saia dos meus poros só por respirar”.

E até podíamos partir de um cenário improvável de ser verdade… epah… mas não é!

E isto quadruplica no Natal, é absolutamente incrível.

Passam o ano a todo a publicitar atos incríveis de bondade que fizeram uma vez em 2010, todos os anos repetem o quão incríveis foram em 2010 exatamente em paralelo que sai aquele discurso que nós todos conhecemos, citemos:

“Eu sinceramente não sou destas coisas e até me faz um pouco de confusão estar a falar assim”

“E se fossemos todos fazer um pic nic em família? Caramba… agora que estou aqui é que me esqueci de dizer ao André… espero que ele não leve a mal porque é que é só a pessoa que eu mais gosto!”

“Não há ninguém que eu não goste, sabem?”

Ao certo ao certo, assim de forma palpável, a Lurdes não fez nada a não ser falar! Falar de quão boa pessoa é e ainda pode melhorar com o passar dos anos. O que fez para além de fatias de bolo de laranja sem glúten para a feirinha da paróquia, este operador não tem visto grande coisa, nem mesmo no seu núcleo mais próximo.

Dá banho à alma com uma frase que antigamente ainda era bonita, agora como quer que seja original é meio impercetível aos olhos do povo “pecador”, com uma imagem do deserto do Sahara ou de um glaciar a derreter com um pinguim para dar o ar dramático à frase sem sentido… e pronto a Lurdes é boa pessoa para o Natal… até ao dia de Reis está safe.

A Lurdes toma chá numa canequinha com as duas mãozinhas para aquecer e respira o ar das plantinhas que tem na varanda. Toda a gente sabe que uma boa pessoa que se preze fala calmo (não é como este operador que se atropela nas palavras), fala com plantas, compra no comercio justo no Natal e tira uma foto quando comprou aquele pacote de arroz para o Banco Alimentar para colocar no Facebook e no Instagram. Não sabe bem quem é o Al Gore, mas como no final do dia somos todos uma família, que interessa quem ele é ao certo? O que interessa é que a Lurdes o aceita como sendo uma extensão de um ser único que é a humanidade.

(só um segundo que este operador emocionou-se)

Estamos em época de Natal!

Está frio lá fora, a lareira está a arder, a mantinha por cima das pernas e sossegue, Lurdes… é Natal! Leia um livro… pode ser a Gramatica da Língua Portuguesa porque o saber não ocupa lugar! Sabe uma coisa fixe? Mesmo que seja só no Natal, fazer coisas boas pode ser só ao vizinho do lado, desde que seja porque de facto lhe queremos bem em vez de querer mostrar a alguém a ou até a si, que é boa pessoa.

Este foi um presente de borla, Lurdes!

Um Natal sem modos.

Operador um!

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *